Consumo de calçados deve aumentar mais de 3% em 2023, projeta Abicalçados

Consumo de calçados no mercado brasileiro este ano deve ficar entre 754 e 757 milhões de pares

O consumo interno de calçados vai puxar o crescimento da indústria calçadista brasileira em 2023. A projeção da Abicalçados aponta para uma alta superior a 3% em relação a 2022 nas vendas do varejo doméstico, que absorvem mais de 85% da produção do setor. Apesar do incremento,  o consumo interno de calçados, que deve ficar entre 754 e 757 milhões de pares, ainda fica cerca de 7% abaixo do nível prévio à pandemia. Os dados foram anunciados em abril durante o Análise de Cenários, realizado pela entidade no formato digital. A iniciativa marcou, ainda, o lançamento do Relatório Setorial Indústria de Calçados - Brasil, que trouxe dados, análises e projeções de curto e médio prazos para a atividade.

 

De acordo com o doutor em Economia e consultor setorial Marcos Lélis, que falou sobre o cenário macroeconômico internacional e nacional no evento, a inflação mundial elevada nas principais economias, o ajuste de estoques nos Estados Unidos, a redução dos preços dos fretes internacionais e a retomada da China após um período de restrições provocado pela política de Covid Zero devem impactar nas exportações brasileiras. “A valorização do real diante do dólar, resultado da alta taxa de juros praticada no Brasil e da queda dos juros nos Estados Unidos, também deve ter impacto nos resultados das exportações”, disse.

 

A economia brasileira, por sua vez, deve crescer 0,9% em 2023, depois de um crescimento mais expressivo, de 2,9% no ano passado. “O Brasil, já falamos em outras oportunidades, tem um teto de crescimento provocado pelas dificuldades estruturais, de falta de investimentos públicos e privados. Hoje, operamos com a taxa de juros elevada, o que dificulta e encarece ainda mais o crédito”, ressaltou Lélis. O endividamento das famílias, ainda em padrões muito elevados, de 78,3%, também deve impactar no crescimento da economia nacional.

 

Produção e exportações 

Na segunda parte do evento, a coordenadora de Inteligência de Mercado da Abicalçados, Priscila Linck, apresentou o panorama para o setor de calçados. Posicionando o Brasil como o quinto maior produtor de calçados do mundo, atrás de China, Índia, Vietnã e Indonésia, a economista destacou que, em 2022, foram produzidos 848,6 milhões de pares, 3,6% mais do que em 2021. Segundo ela, as exportações de calçados tiveram um papel preponderante na performance. No ano passado, as exportações somaram  141,9 milhões de pares e US$ 1,3 bilhão, resultados superiores tanto em volume (+14,8%) quanto em receita (+45,5%) em relação a 2021. O valor também foi o melhor em 12 anos. 

 

Com dados do Relatório Setorial Indústria de Calçados - Brasil, Priscila projetou a perda de força nas exportações ao longo de 2023. “Em 2022, as exportações brasileiras de calçados cresceram em índices maiores do que as exportações mundiais, 45,5% ante 12,7% (em receita). O fato ocorreu por uma conjunção de fatores, como o dólar valorizado e o alto custo dos fretes, o que dificultou o avanço da China”, disse. Segundo ela, no entanto, no final de 2022 o custo médio do frete já estava regularizado, com valores 77% menores do que em dezembro de 2021. A China, após um período de fortes restrições em função da política de Covid Zero também estava de volta - e com apetite - ao mercado. “Já no final de 2022, as exportações brasileiras de calçados passaram a mostrar um desaquecimento, que deve ser mantido ao longo de 2023”, projetou Priscila, acrescentando que também pesam contra as exportações o desaquecimento de algumas das principais economias mundiais, principalmente dos Estados Unidos, e a inflação internacional. Para 2023, segundo Priscila, as exportações de calçados devem registrar quedas entre  6,7% e 9,1% - para entre 129 milhões e 132,4 milhões de pares - , ainda assim ficando acima dos níveis pré-pandemia, em 2019.

 

Correndo atrás

Apesar do crescimento na produção de calçados, em 2022, o volume de produção não alcançou o nível pré-pandemia (2019). Além disso, a produção ainda não deve retornar ao patamar de 2019 ao final de 2023, conforme projeções da Abicalçados. Segundo Priscila, no cenário otimista, a previsão é a de que a produção de calçados alcance 863,1 milhões de pares (+1,7%), enquanto o cenário pessimista sinaliza 857,1 milhões de pares (+1%), o que reflete uma desaceleração no crescimento em relação ao último ano. “Ainda assim, a produção de calçados deve manter seu ritmo de crescimento superior à expectativa de crescimento para a economia brasileira em 2023, que é de 0,9%”, ressaltou a economista. Segundo ela, a possibilidade de redução do crescimento econômico nos Estados Unidos tende a impactar negativamente na projeção de crescimento do setor, dada a representatividade do país nas exportações brasileiras, assim como na economia mundial

 

Materiais

Com relação ao material predominante utilizado pelo setor de calçados brasileiros na produção, tem-se como destaque o plástico/borracha. Contudo, a participação do material na produção brasileira reduziu de 56,2%, em 2020, para 52,1% em 2022. Por outro lado, a participação da produção dos demais materiais apresentou crescimento em 2022. Destaca-se a categoria Couro, que passou de 16,3% em 2021 para 17,1% em 2022. O aumento da participação do material pode ser explicado, em partes, pelo crescimento da produção calçadista do Estado do Rio Grande do Sul, que se destaca pela produção e exportação de calçados de couro. 

 

Conforme o Relatório, em 2022, 48,3% da produção nacional foi composta por chinelos, totalizando 409,8 milhões de pares. Esse tipo de calçado teve uma diminuição na  participação de 2,2% em relação a 2021.  A produção de calçados de uso Casual e Social passou de 34,9% do total de pares produzidos, em 2021, para 36,3% em 2022. “Com o avanço na vacinação e a mitigação das medidas de restrição de mobilidade ocorridas em 2021, a participação dos calçados de uso Casual e Social na produção passou a recuperar sua participação na produção”, disse Priscila.

 

Capacidade instalada

A análise da evolução do nível de utilização da capacidade instalada é importante dado que esse indicador reflete, em parte, a rentabilidade do estoque de capital das empresas do setor. Após as restrições impostas para controlar o avanço da Covid-19 terem diminuído a atividade econômica e, consequentemente, provocado uma queda na demanda por bens de consumo, o NUCI caiu de 76,9%, em 2019, para 60,4%, em 2020. Com a normalização do comércio físico e o avanço da vacinação, o indicador subiu 11,1% em 2021. “No entanto, após essa recuperação o indicador se manteve estável, apresentando um nível de capacidade instalada de 71,5% em 2022 e, portanto, ainda inferior ao nível pré-pandemia”, informou Priscila. 

 

Conforme Priscila, mesmo com o uso da capacidade instalada não estando em índices elevados, o investimento na indústria calçadista tem crescido desde 2021. Em termos reais, ou seja, descontada a inflação, as empresas investiram R$ 1,4 bilhão em 2022, um crescimento de 37% em relação ao ano anterior e de 72% em comparação ao ano de 2020. “O crescimento da produção e das exportações estimularam os investimentos por parte das empresas calçadistas no último ano”, destacou.

 

Empregos

A indústria calçadista foi responsável por 296,4 mil empregos formais em 2022. Em 2022, o setor criou 24,6 mil postos de trabalho, encerrando o ano com estoque de empregos 9,1% maior do que em 2021. “Destaca-se que a manutenção do alto nível de geração de empregos na indústria calçadista reflete a continuidade da retomada da atividade ao longo do ano passado, com importante impulso pelo resultado de crescimento das exportações de calçados”, explicou Priscila.

 

Relatório

Além dos dados detalhados, o Relatório Setorial Indústria de Calçados - Brasil traz ainda mais detalhamentos, análises, projeções e oportunidades - medidas pela metodologia do Índice de Competitividade. Baixe a publicação gratuitamente. O Análise de Cenários e o Relatório Setorial Indústria de Calçados - Brasil têm o patrocínio da Caimi & Liaison e Sicredi, com apoio institucional do Sebrae.